Pesquisar
Close this search box.

Educação financeira, em tempos de crise, é sinônimo de mais qualidade de vida

Economista e professor Fernando Antônio Agra Santos – Aula na Universidade Federal de Juiz de Fora.

O economista e professor Fernando Antônio Agra Santos costuma dizer que o mais importante não é quanto se ganha, mas como utilizar seus recursos e planejar o futuro.

Pessoas, empresas e países que são mais organizados em suas finanças pessoais, empresariais e governamentais, são mais preparados pra situações adversas, porque têm uma reserva em caixa. Em uma situação imprevista, uma família que tem uma reserva consegue passar por momentos difíceis de uma maneira melhor, ou menos delicada. Imprevistos ocorrem na vida de todo mundo, mas às vezes não é preciso diminuir tanto o padrão de vida, fazendo alguns ajustes, explica ele.
Nesta entrevista, Fernando Agra, que é doutor em Economia Aplicada, especialista em Educação Financeira e palestrante nas áreas de Inteligência Financeira e Gestão de Pessoas, nos ensina sobre como ter mais qualidade quando nos organizamos financeiramente, além de destacar a importância das finanças solidarias. Confira:

O que é inteligência financeira e como podemos adquiri-la?

Inteligência financeira é colocar em prática os princípios da educação financeira. E é possível adquirir esse conhecimento. Inteligência é buscar o conhecimento para se viver de acordo com o padrão de vida, gastar menos do que se ganha, ter um orçamento doméstico organizado para poder tomar melhores decisões, buscar se qualificar sobre o tema, priorizar as necessidades antes dos desejos, poupar regularmente. Também é importante reconhecer o seu perfil de consumidor, construir uma reserva de curto prazo para emergências e para boas oportunidades, e investir em aplicações mais conservadoras e tradicionais, com menor grau de risco. E também pensando em médio, longo prazo, recomenda-se ter um complemento de renda para uma aposentadoria. Tudo isso faz parte da educação financeira, que trabalha também o consumo consciente – porque quando somos consumidores conscientes ajudamos não somente o bolso, mas também o planeta, pois poupamos recursos naturais. E aplicar tudo isso na vida é ter inteligência financeira.

Quais os resultados práticos que podemos obter através da educação financeira?

Os resultados são excelentes. Pessoas que têm educação financeira e são inteligentes financeiramente conseguem acumular e usufruir de um patrimônio financeiro ao longo da vida, de acordo com o padrão da vida, e até crescer financeiramente. Têm uma saúde melhor porque não têm preocupações com dívida e com situações de inadimplência. Há estudos que mostram que as pessoas adoecem menos, são mais produtivas no trabalho, mais assíduas, vivem mais tempo felizes com a família. Isso porque uma série de problemas financeiros contribui para prejudicar relacionamentos entre casais, entre pais e filhos etc. Ou seja, a educação financeira melhora a qualidade de vida e ela tem sido cada vez mais presente no nosso cotidiano. No site do Banco Central, em instituições como Fundação Bradesco, Fundação Getúlio Vargas, ou no próprio Ministério da Economia, há boas opções de cursos gratuitos sobre o tema. O próprio programa do governo federal, Desenrola Brasil, que está sendo lançado, vai apresentar um curso de capacitação financeira para que quem aderir ao programa consiga sair da inadimplência.

Educação financeira não demanda frequentar uma sala de aula. Há pessoas sábias com pouco ou nenhum estudo que não gastam mais do que ganham, anotam tudo num caderno o que gastam e na calculadora, e daí conseguem ter qualidade de vida melhor. Mas à medida em que as pessoas vão se qualificando, vão se modernizando, buscando mais informações sobre aplicações financeiras, buscando formas de fazer o dinheiro trabalhar melhor para si, de potencializar os ganhos do trabalho. E quem não vive do mercado financeiro busca nas aplicações potencializar os ganhos.

Economista e professor Fernando Antônio Agra Santos – Aula na Universidade Federal de Juiz de Fora.

Quais são as regras mais importantes da educação financeira em tempos de crise?

Fazer revisão no orçamento para saber onde pode cortar, pesquisar ainda mais para buscar promoções e, quando encontrar produtos com um prazo de validade maior, comprar um pouco mais e fazer um pequeno estoque, assim como substituir marcas caras por mais baratas, sem diminuir a qualidade. Além disso, é bom buscar se qualificar sempre para poder tomar melhores decisões.

Trocar a dívida do cartão de crédito por uma dívida com juros menores vale sempre a pena?

As taxas de juros tanto do cartão de crédito rotativo quanto do parcelado têm uma das taxas mais altas atualmente no mercado e no mundo. Há situações em que é interessante fazer troca de dívidas. Se a pessoa está devendo e pagando juros de 9%, 14% ao mês, ela pode buscar uma fonte de financiamento de fonte de crédito direto ao consumidor, no valor de 6%, ou crédito consignado de 2% ao mês.

Qual o papel e a importância das cooperativas de crédito e das finanças solidárias diante dos desafios econômicos de hoje?

As finanças solidárias podem promover o alcance para um público que não tem acesso ao sistema financeiro usual a custos menores, gerando maiores benefícios.

A cooperativa, como o próprio nome diz, trabalha com a cooperação, tem um lado mais humano na relação com o dinheiro. Ela pode oferecer, através da união dos seus cooperados, linhas de financiamento mais baratas do que as instituições tradicionais e produtos e serviços com rentabilidade maior, por meio de um crédito mais barato e mais opções de aplicações financeiras. O crédito mais barato fomenta a economia, os investimentos, o que gera emprego e renda. É um papel muito importante, amplia a concorrência com o sistema bancário, é muito positivo para o país.