
Crédito da foto: Álvaro Saluan

Fernanda Araújo Rosa, Diretora do CEM
Crédito da foto: Márcia Costa

Fernanda Oliveira, Professora de Dança do CEM (A terceira, da esquerda para direita)
Crédito da foto: Márcia Costa
Com a chegada de 2025, a ONU declarou o Ano Internacional das Cooperativas, convocando o mundo a repensar o papel da cooperação na construção de uma sociedade mais justa, sustentável e humana. Em meio a desafios climáticos e desigualdades sociais, as cooperativas vão ganhando ainda mais relevância como agentes fundamentais para criar de soluções globais, trabalhando em diversas áreas como agricultura, energia renovável, finanças e, claro, a educação, base da transformação social.
A educação, enquanto pilar fundamental na formação das novas gerações, é um dos espaços mais promissores para a aplicação dos princípios cooperativos. Independentemente de ter um projeto institucionalizado de cooperação, as escolas precisam ser um espaço de solidariedade e humanização. O Centro de Educação de Jovens e Adultos Dr. Geraldo Moutinho (CEM), em Juiz de Fora (MG), é um exemplo de escola humanizada, inclusiva e transformadora, mesmo sem um projeto formal de cooperação nos moldes tradicionais.
CEM: uma escola de acolhimento e transformação
Desde sua criação, o CEM tem como principal essência o acolhimento de estudantes de diversas realidades sociais e de pessoas com deficiência, marginalizadas pela sociedade. A diretora Fernanda Araújo Rosa destaca que a diversidade da comunidade escolar colabora para impulsionar um olhar mais humanizado, promovendo práticas pedagógicas muito compromissadas com a inclusão. “A diversidade que nós temos na nossa escola é uma força, e o acolhimento se reflete não só no ambiente educativo, mas também no apoio social e psicológico que oferecemos aos nossos alunos”, afirma.
Para o professor João Paulo Lopes, vice-diretor do CEM, para que seja eficiente, esse modelo pede um esforço coletivo de toda a equipe escolar, compromissada em acolher as demandas específicas de cada aluno. “É muito importante que a equipe escolar entenda a complexidade da trajetória dos nossos estudantes, com desafios individuais, e busque sempre qualificações para atender a essa diversidade de forma especializada e eficaz”, explica João.
O vice-diretor reconhece que o trabalho apresenta desafios significativos, como lidar com a indisciplina, os conflitos de gerações e a baixa autoestima de muitos alunos que chegam ao CEM após várias experiências de fracasso escolar.
“A professora ou o professor precisa estar preparado para receber essas pessoas. Muitos estudantes chegam com dificuldades de aprendizado ou com uma autoestima muito baixa, e o nosso papel é melhorar esse quadro. É um processo complexo, mas, aos poucos, buscamos reduzir ao máximo essas dificuldades,” afirma João.
Ele enfatiza também a importância da formação contínua dos educadores para atender a esse público tão diverso. “Os professores precisam buscar qualificação constante. Como diria Paulo Freire, é difícil, mas é possível. Com essa visão de acolhimento e inclusão, o trabalho se torna mais gratificante e transformador,” destaca.
Uma escola solidária no cotidiano
Fernanda Oliveira, professora de dança e há 20 anos no CEM e criadora do grupo Poéticas do Corpo, acredita que a escola vai além da simples transmissão de conteúdos: “Toda escola deveria ser um lugar privilegiado para construir um sentido de coletivo. No CEM, a multiplicidade de vidas – com diferentes idades, credos e histórias – é o que nos fortalece”, diz Fernanda Oliveira.
“O CEM acolhe as diferenças e destaca as potencialidades, não os limites impostos pela sociedade”, afirma. Esse olhar para as diferenças, aliado à prática da empatia, é fundamental para criar um ambiente educacional que promova o desenvolvimento pleno de cada aluno, reflete a professora.
Transformando o futuro
No CEM a educação não se limita ao aprendizado acadêmico, mas também ao desenvolvimento de valores humanos essenciais, como a solidariedade e o respeito. “Para que outras escolas possam adotar essa visão transformadora, é necessário praticar a escuta ativa, ser verdadeiramente dialógico e abandonar práticas monoculturais. A educação antirracista, o combate ao machismo e à homofobia, e a integração das artes e esportes no currículo escolar são fundamentais”, acredita Fernanda Oliveira. Além disso, a professora ressalta a importância de ensinar os alunos a cuidar de si mesmos e do mundo à sua volta.
“É essa visão acolhedora e integrada que permite ao CEM formar indivíduos mais preparados para enfrentar os desafios do cotidiano. Estamos sempre buscando alinhar os conteúdos escolares à realidade de cada aluno, respeitando a individualidade dele e promovendo um ambiente de aprendizado e superação,” afirma Fernanda Araújo, a diretora.
Os efeitos dessa abordagem são evidentes no cotidiano da escola. “Vejo desafios, mas também desejos, brilho nos olhos e vidas contentes. Todos estão aprendendo e ensinando juntos. Como diz Paulo Freire, ‘os educadores aprendem outros saberes enquanto ensinam, e os educandos também ensinam no processo de aprendizagem’”, reflete Fernanda Oliveira.
O exemplo do CEM demonstra que a escola pode ser um espaço de transformação social, onde solidariedade e cooperação não são apenas conceitos, mas práticas diárias. Fernanda Oliveira finaliza com uma reflexão inspiradora: “Cuidar de nós mesmos, do nosso interior e levar isso para o mundo ao nosso redor é o caminho para uma educação transformadora e inclusiva.”
Em 2025, Ano Internacional das Cooperativas, devemos olhar para exemplos como o do CEM e refletir sobre como as práticas cooperativas e solidárias podem impulsionar um mundo mais justo, sustentável e humano.
